Presidentes Joe Biden, dos Estados Unidos, e Gustavo Petro, da Colômbia, saíram em defesa de ideia lançada por Lula duas semanas após pleito controverso. Para oposição, proposta é “desrespeitosa”: “Eleição já aconteceu”.Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugerir nesta quinta-feira (15/08) novas eleições na Venezuela como solução para o impasse em que o país se encontra, os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Colômbia, Gustavo Petro, saíram em defesa da proposta.
Tanto Nicolás Maduro, atual mandatário venezuelano, quanto a oposição reclamaram vitória nas urnas no pleito realizado em 28 de julho. Só que Maduro, apesar da pressão internacional, até agora recusou-se a exibir as atas eleitorais (tipo de boletim de urna) que comprovariam sua suposta reeleição.
Falando nesta quinta-feira à Radio T, em Curitiba (PR), Lula frisou que ainda não reconhece a vitória de Maduro.
“Ele sabe que está devendo explicação para a sociedade brasileira e para o mundo, ele sabe disso”, afirmou Lula, antes de especular sobre possíveis saídas para a crise, como a formação de um governo de coalizão ou a realização de novas eleições acompanhadas por observadores internacionais. “Se ele [Maduro] tiver bom senso, podia tentar fazer conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições, estabelecer critério de participação de todos os candidatos, criar comitê eleitoral suprapartidário, que participe todo mundo.”
Momentos depois, em postagem na rede social X, Petro endossou a realização de “novas eleições livres” e “garantias totais à ação política”, bem como “anistia geral nacional e internacional” e suspensão de “todas as sanções contra a Venezuela”.
“De Nicolás Maduro depende uma solução política para a Venezuela que leve paz e prosperidade ao seu povo”, afirmou Petro.
Petro e Lula fazem dobradinha ao propor aliança com oposição
Ecoando Lula, Petro também sugeriu a criação de uma “frente nacional” para a Venezuela, como a que existiu na Colômbia no século 20, quando liberais e conservadores se revezaram no poder entre 1958 e 1974. A aliança logrou tirar do poder o general Gustavo Rojas, que queria permanecer como chefe de Estado perpétuo.
“A experiência da Frente Nacional Colombiana é uma experiência que, usada temporariamente, pode ajudar em uma solução definitiva”, escreveu Petro.
Como país que mais absorveu venezuelanos em todo o mundo – 2,8 milhões –, a Colômbia é um dos maiores interessados na resolução da crise na Venezuela, que já levou mais 7,7 milhões a deixarem o país, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações, órgão das Nações Unidas.
México e oposição rechaçam proposta para novas eleições
Já o México, que até bem pouco tempo integrava um grupo com Brasil e Colômbia para tentar negociar uma saída para a crise na Venezuela, rechaçou a proposta de novas eleições. O presidente Andrés Manuel López Obrador disse não considerar a ideia “prudente”.
“Vamos ver o que o tribunal [Supremo Tribunal de Justiça, acionado por Maduro] decide. Não acho prudente que nós de fora, um governo estrangeiro, seja quem for, possamos dar opinião sobre algo que deve ser resolvido pelos venezuelanos”, declarou Obrador em entrevista coletiva.
Embora ainda não reconheça a vitória de Maduro, o presidente mexicano voltou a criticar o fato de governos e organizações internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, terem reconhecido a vitória do oposicionista Edmundo González Urrutia.
“Há princípios e queremos ter boas relações com todos os povos, e não é apenas uma questão de governos, é uma questão de povos (…). Vamos ver o que eles resolvem no processo eleitoral, mas desde o início do caso ficou claro que há uma atitude muito tendenciosa”, afirmou.
Mesmo assim, Obrador negou que estivesse apoiando qualquer um dos lados, reafirmando que a Constituição mexicana proíbe a intervenção em assuntos de outros países.
A líder oposicionista María Corina Machado, que foi barrada de disputar as eleições contra Maduro e apoiou González, também rechaçou a proposta de Lula.
“Questionar o que aconteceu em 28 de julho, para mim, é uma falta de respeito aos venezuelanos (…). A soberania popular deve ser respeitada”, disse a jornalistas argentinos e chilenos por videoconferência.
“A eleição já aconteceu”, afirmou. “A sociedade venezuelana se expressou em condições muito adversas, em meio à fraude, e ainda assim conseguimos ganhar.”
Falando nesta quinta-feira no Senado, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, defendeu a proposta, argumentando que quem ganhou duas semanas atrás, ganharia de novo. Segundo Amorim, a ideia foi lançada primeiro por um país estrangeiro, que ele não quis identificar.
“Eu acho que o curioso de novas eleições é que tanto um quanto outro poderia aceitar facilmente, se eles dizem que ganharam, ganhariam de novo”, disse.