A detecção de gripe aviária em uma única granja no sul do Brasil está repercutindo em todo o mundo, suspendendo o fornecimento para consumidores vorazes por frango da China à Europa.
Os embarques para os principais destinos, que também incluem México e Coreia do Sul, foram suspensos, enquanto o maior exportador de frango do mundo busca impedir a disseminação da cepa mortal do vírus H5N1. As proibições, até o momento, fecharam mercados que respondem por mais de US$ 4 bilhões por ano em receitas de exportação, ou 40% do total, de acordo com dados do governo.
O Brasil não pode ser facilmente substituído. O país abastece mais de um terço do mercado global de exportação, e seu status de longa data como uma nação livre da gripe aviária vinha garantindo aos produtores locais uma vantagem sobre os concorrentes, incluindo os Estados Unidos, nos últimos anos.
“Quando você tira o maior fornecedor global de alguns grandes importadores, você os coloca em uma posição de vulnerabilidade”, disse João Otávio Figueiredo, analista da consultoria Datagro. Os compradores que interromperam as compras do Brasil poderão em breve ver preços mais altos, segundo ele.
A demanda por frango tem crescido globalmente, conforme os consumidores buscam alternativas mais baratas à carne bovina. Isso impulsionou os lucros de empresas como a BRF e a JBS no Brasil, bem como a Tyson Foods nos EUA. Os consumidores devem consumir uma quantidade recorde de carne frango este ano, prevê o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
A oferta global de carne de frango tem sido limitada pelas baixas taxas de fertilidade de ovos e por vários surtos de gripe aviária. O vírus, que já causou escassez de ovos nos supermercados americanos, reduzirá as exportações de carne de frango dos EUA ao menor nível desde 2015, projeta o USDA.
As granjas comerciais no Brasil estavam, até o momento, isoladas do vírus, que matou dezenas de milhões de aves em todo o mundo recentemente. Cerca de dois terços do crescimento estimado nas exportações globais de frango neste ano deveriam vir do Brasil, mostram os dados do USDA.
Isso mudou na semana passada, quando o vírus foi descoberto em um plantel comercial no estado do Rio Grande do Sul. E há preocupações de que ele possa se espalhar, com casos suspeitos em granjas comerciais em Santa Catarina e no estado do Tocantins, no norte do país, ainda sob investigação.
A China e a Coreia do Sul foram alguns dos compradores mais afetados. Os países, que dependem do Brasil para mais de 70% de suas importações, impuseram proibições nacionais. Países que implementaram apenas proibições parciais, como a Arábia Saudita, provavelmente se sairão melhor.
A escala das interrupções dependerá da capacidade do Brasil de impedir a disseminação do vírus mortal. A região sul do Brasil concentra cerca de 75% das exportações de frango do país.
O Brasil já havia suspendido os embarques para a China e a Europa em julho e restringido as vendas para outros países após detectar a doença de Newcastle em uma granja comercial. Mas as proibições foram rapidamente revertidas.
“A solução para os importadores é adotar uma abordagem mais racional nas medidas de proteção”, disse Alcides Torres, fundador da Scot Consultoria. “Não há outro fornecedor como o Brasil”, acrescentou ele.